domingo, 19 de setembro de 2010

Festejamos nas ruas um ato ausente, festejamos nas ruas por esta gente sempre indiferente. Como sempre manipulado, o povo grita o seu desabafo acreditando que os alguéns escutam o seu brado.
De um lado a mesquinha tirania, do outro a mesmice exposta no dia-a-dia ... diante a pia baptismal o homem se redime do mal; em seu regime atual, este mesmo homem tem a sua barriga vazia, tem por sua panela uma latrina e por talheres as mãos vazias.
A verdadeira festa ainda nos espera e será aquela que seremos o prato principal ... o pato do alvo imóvel, de algo móvel que movimenta as engrenagens frias ... imagens não nítidas; malditas teclas de um micro sem vida.
Autômatos, nos os atônitos seguimos neste labutar sem fim, neste imenso esboço de nação, nas garras da corrupção.

Sampa 29-set-1992
Leis e bacharéis decidem o destino de diversos réus sendo que os réis influem na sentença e na benção. Amemo-nos uns aos outros como se fossemos todos iguais, mesmo sabendo que sempre existe um igual mais igual.
Que legal! Nos meandros do ilegal, os homens ditos de bem ditam as regras ... perversas novelas de capítulos sempre banais, de personagens sempre mortais; mas que tudo podem, tudo esta às suas ordens.
A fome é uma mera semelhança, não existindo na tênue realidade. Nas vias expressas da opressão insistem os vaga-lumes a brilhar em meio a estrumes ... em meio aos tapumes que escondem a traição  ... em meio aos enxames que dilaceram a libertação.
Ação, coação, coerção, cooptação ... tudo se exprime na força intrínseca da razão, nas belas teorias que nada fazem a não ser iludir nossa visão, deturpar os olhos e expropriar nossa imensidão.
Somos feitos de palavras esquecidas, de tábuas apodrecidas ... trazemos muitas feridas. Temos que tomar de assalto os lugares mais altos, os tronos e os reis momos, temos que levantar o asfalto para vermos de que fato são feitos os pavimentos ... por onde pissamos e para onde vamos, o que somos?

Sampa 24-set-1992

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Estas pessoas tão podres que insistem em atormentar os outros, as inocentes almas que buscam a calma ... que buscam a alma.
Uma arma apontada para a sua cabeça, para que não se esqueça da beleza, da tristeza que nos persegue frente aos dias ... defronte as pias de louça fria nos vemos incertos, imersos nesta infinita latrina.
Vida, oh vida vadia! Oh minha doce rebeldia, em qual das esquinas ficaste perdida, em quais moradias me abandonaste juntamente com a alegria?
Alegoria estampada em rostos de faminta agonia, a fome desperta os sonolentos que na lentidão dos tempos buscam o seu alimento ... o seu elemento.
Excremento exposto na calçada vazia, na alçada da justiça, na maldade da tirania ... uma tia morta pelo seu fragmentado cérebro, pelo seu estilhaçado ego.
Me apego a símbolos fálicos, pálidos traços de um ser marginalizado, escoltado por abutres famintos, que buscam a sua carne como troféu de brilho raro, como um infiel por tudo culpado.
Um vaso de flores mortas, casco a perfurar pensamentos, um asco que toma conta dos sentimentos.
Esta sociedade empalidecida não percebe quais as razões de suas feridas, qual lentidão habita suas moradias.

Sampoa 1991
Engrenagens de uma máquina aflita, fita de uma nova trilha, mentiras em formas distintas ... tintas a colorir marmitas. Palavras que nada dizem, que são iguais aos carros na avenida em seu ir e vir, qual será o porvir?
Polvilho estrelas com germes de felicidade, escuto as realezas com discursos de beleza, mas na verdade repletos de pobreza.

Sampa 1991
Ordas de ervas daninhas invadem o jardim da vida. Órbita de uma planta estéril a sufocar os seres que ali habitam ... transitam naves e foguetes como se fossem joguetes inocentes, indecentemente demonstram a sua verdade que transforma verdes árvores em podres galhos.
Em frangalhos os meus nervos estalam, entalam na agonia do povo, na fome que corroí estomagos, nas doenças existentes no sistema.
Madalena arrependida, paródia e vida, tinta usada nos grafites da avenida ... insistes em correr para além das esquinas enquanto a luz busca os que choram mas não se chocam diante esta matança indevida.

Sampa 1991
E se eu morresse amanhã?
Teria conseguido dar vida aos meus sonhos ou somente perambulado pelos escombros dos meus pensamentos?
Não sei ao certo o que é certo ou errado, enfim não entendo os homens em suas tarefas diárias, em suas incertas lealdades ... maldades que me fizeram fruto, um largo passo frente os textos acadêmicos; epidêmicos versos que povoam os meus sentimentos.
Lamentamos os vários fingimentos, os sangrentos falecimentos, os cimentos que contornam nossos elementos. Nos tornamos aço em meio as ferragens que soltam no espaço, que saltam sobre nossos passos como cogumelos em busca de orvalho.
Em busca de um orgasmo me vi cercado pelos seres de plástico ... no Ártico foi a pique o meu barco, geladas águas, tristes palavras.
Sinto as fadas em meu encalço, buscam o meu ser e nem mesmo sei aonde estou ... se restou algo além dos vasos ressecados ... palácios feitos de lábios. Lábios de um beijo passado, uma boca ensanguentada que navega a todo vapor pelos corpos em calor.
O bolor se apossa de mim, o tambor toca uma marcha sem fim, os sins são feitos de nãos, mãos que se entrelaçam diante as estrelas da madrugada ... uma vaga de fúria infinita sacode os poros, transforma os povos em uma massa ... uma raça distinta a traçar os caminhos, os desvios, ninhos de felicidade.
Utopia que não tem idade, a feliz idade que nos derrota e ao mesmo tempo mostra que as flores não estão mortas.


Sampoa 21.oct.91