quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Vivemos absortos por padrões herméticos, ecléticos patrões a designar nossas funções segundo o bom grado das monções ... nação despedaçada, gente desesperada.
Nada influi sobre o rumo da embarcação, nada conduz os homens a sua libertação, pois as forças da posição são fortes, tão fortes quanto um furacão a arrastar corpos ... destruição.
Ação e reação rasgam a carne, esfacelam utópicas emoções; transladam a mente para o sempre presente ... ausente ser que não mais sente, ente onipotente a figurar nos quadros de uma exposição permanente.
Verte a fome e a miséria nas verdes terras desta índia, deusa de infinitos frutos e diversos lutos que enegrecem suas artérias, entorpecem as materias pensantes ... um pouco antes da morte silenciosa, surgem vozes para quebrar os grilhões e as correntes, surgem silhuetas a desatar os nós desta densa prisão ... extensa fúria conduz os povos a sua translúcida razão, intensa luta pelos sonhos ... revolução.
Entrelaçam-se mãos na união das forças em comum sensação, em um turbilhão ansioso se vai a massa empurrando as castas contra um paredão rumo à aquilo que fora sua mansão.
Lançam-se tanques sobre pessoas famintas, abrem-se fogos sobre os olhos atônitos, anônimos se curvam frente ao metal mortal, mas o mal é deposto e torna-se oposto, um imposto, um qualquer sem rosto, um esboço.
Esforço infinito, sangue exposto na grama das moradias, seres que surgem diante uma luz, luz a iluminar um novo dia ... despedida

Mar/93
Ave sem ninho à voar pelo céu dos aflitos ... não escutam os teus gritos ... não percebem os teus sentidos ... despedaçam-se os mitos.
Infinitos passos a trilhar caminhos distintos, intrínsecos passamos a voar sem destino ... não atino qual o dever do ser, qual querer me faço pertencer.
Tecer a vida escalando os degraus do dia, esquecer da vida diante a porta da moradia, desfalecer diante a presença de minha menina.
Estabelecer metas como um atleta que busca a sua superação, às máscaras que lhe turvam a visão, páginas em branco tornando-se coração ... emoção de não vencer os teus obstáculos, mas sim transpor o mundo e os seus oráculos.
Abstrato extrato de banco, números e mais números criando uma dependência ... vício lícito imposto pelas finanças e ganâncias ... desde a infância.

(sem data)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Deixemos cair por terra as máscaras e as pinturas da face. Sigamos de rosto e espírito limpos rumo ao amanhecer de nossa luta. Não basta sermos apenas os teóricos do amanhã ... alegóricos seres que pendem de cordões manipulados, marionetes de um trágico espetáculo ... oráculo de respostas feitas de plástico.
Tentemos desatar estes nós que nos envolvem os braços, procuremos usar estas fibras para tecer as escadas de nossa fuga. Fuga esta não da realidade, mas sim das letargicas promessas de que um dia tudo muda ... luz do fim do túnel ... túnel de uma infinita travessia.
A rebeldia se esconde em uma ilha, ilha esta cercada por mil armadilhas e masmorras frias. O ser livre é algo incomodo, que denota batalhas e destruição da mesa posta;não é uma aposta nem tampouco um monte de bosta. É mais um momento de expansão, aonde um ser se torna fruto de seu querer ... sem querer alimentar as fornalhas da usina, sem querer perpetuar as maldades da tirania.
Mar/1993
Em meus olhos navega a tua imagem, em meu coração somente transborda a emoção quando encontro tua visão ... paixão diluída nos atos, fluída nos recatos ... nos recantos da solidão.
Falta me faz a linguagem, falta me faz a linhagem, para te alcançar na razão ... vazão de sentimentos proibidos, impedidos pela fraqueza de meu ser.
Queria ser o todo, estar no topo, mas mal sei escalar um morro, um simples tolo ... palavras jogadas, espalhadas por um papel qualquer, não exprimem o que de fato sinto ... omito.
Mito de meus sonhos mais intímos, musa de meus devaneios mais lindos ... queria agora abraçar o teu corpo, navegando pelas curvas de tua cintura, acariciando teu rosto como se fosse uma pintura.
Loucura pura e crua, desnuda criatura em sincera busca, em matéria impura ... lua de uma serenata, rua de um vagar silencioso; meus poros respiram o teu perfume, cheiro cheio de repouso ... descanso das batalhas mentais, fatais escaramuças de uma mente escusa ... reclusa em sua própria loucura.
(sem data)
Sorrio para ti meu maior desafio, meu maior inimigo. Te desafio a também sorrir, a rir deste mundo não limpo ... tu que desafina as cordas da vida, que impregna o ar com teu fétido lamentar.



Escute as alegrias, as verdadeiras alegrias; pois elas destruíram tuas alegorias te pondo frente a frente com as moscas de um verde negrume, o teu cérebro transborda em estrume ... ser sem virtude.



Não me importarei com tuas maledicências, medíocres falências de tua língua ... ingua nascente sobre as axilas de um doente ... dor de dente de incomodo presente, refletes um futuro longínquo a onde teremos vencido a fome dos homens e a ignorância daqueles que devoram estes famintos homens.



Comerás as ervas daninhas que crescem nas esquinas, dormirás nas pedras úmidas das masmorras sem vida ... a ida é a própria vinda, é a inconstante via que nos acessa a uma insana melodia ... luz de um novo dia, dia de um novo conhecer, esquecer da ganância faminta, padecer apenas diante a velhice tranquila.

(sem data)
Sempre sonhamos, sempre imaginamos transformar este mundo em um algo melhor, em alguma coisa pelo qual tenhamos vontade de viver, de amar e mesmo sonhar.
O pouco que queremos representa muito para os manipuladores de pensamento ... sentimentos dispersos, imersos na agonia e no sofrimento; poucos sabem o que de fato é esta tal realidade ... real idade das trevas, escuras e espessas cortinas de merda a vendar olhos famintos, a encobrir os mortos nas rasas valas dos monumentos.
Afinal, a quem interessa esta fome e miséria que assola e devasta nossa terra?
Porque tantos interesses se sobrepõem às necessidades da sociedade?
Respostas ... por mais que tentemos não encontraremos, pois estaremos sempre andando em círculos ... vivemos num imenso circo no qual os atores somos nós mesmos ... os palhaços sem pintura que riem a toa enquanto a lona desaba em chamas ... labaredas insanas a devorar carne humana, a transformar em pó o sonho que sempre sonhamos.
Chega desta alegoria absurda, basta de termos que engolir as fezes das diversas oligarquias, perversas tiranias.
Mar/1993
Por momentos me pego a te olhar, tentando o gosto de teus lábios imaginar ... pelo sabor de teu amor navegar.
É estranho este sentimento não lento, a tomar meus elementos, a destrinchar-me em segmentos. Algo me liga aos teus olhos, algo me transforma em um tolo parado na porta, sem saber se entra ou sai, sem compreender os seus próprios sinais.
Sou um sonhador, um trabalhador que não tem dono ... enquanto durar este meu sonho. Pode ser apenas outra ilusão, outra confusão criada por meu coração, mas como é boa esta sensação ... forte emoção.
Te mando um beijo, assim meio sem jeito. Transporta este beijo um carinho ... carinho.
(sem data)
Vá malefício, retorne ao teu dono desde o inicio, não me venhas perturbar, pois com minha vida não há de acabar.
Sou um pássaro aprisionado, que com a natureza perdeu o contato, mas sei o destino dos ventos, sempre estive ao relento ... relendo as páginas não escritas, me perdendo na ironia da vida.
Faz me rir esta tua pouco imatura maldade, esta tua crua ingenuidade. Procura para os teus grilhões os que gostam de escravizar, os que se sentem em guerra mesmo estando em uma cratera.
Sinto os teus olhos em meus passos, em meu encalço ... estou descalço para melhor sentir as brasas desta fogueira não adormecida, acordo em um salto por te ver como um asno. Novamente te digo que vá, procure o teu mestre e desfrute com ele o seu próprio mal.
Novamente te digo que se vá malefício daninho, aconchegue-se junto ao teu dono mesquinho, este vil prostituído que vende sua alma a todo instante, que vive uma mentira incessante.
E assim se façam as trevas de tuas próprias costelas ... sequelas ... mazelas a quem espera destruir, a quem sente prazer em mentir.
15/12/1992

domingo, 19 de setembro de 2010

Festejamos nas ruas um ato ausente, festejamos nas ruas por esta gente sempre indiferente. Como sempre manipulado, o povo grita o seu desabafo acreditando que os alguéns escutam o seu brado.
De um lado a mesquinha tirania, do outro a mesmice exposta no dia-a-dia ... diante a pia baptismal o homem se redime do mal; em seu regime atual, este mesmo homem tem a sua barriga vazia, tem por sua panela uma latrina e por talheres as mãos vazias.
A verdadeira festa ainda nos espera e será aquela que seremos o prato principal ... o pato do alvo imóvel, de algo móvel que movimenta as engrenagens frias ... imagens não nítidas; malditas teclas de um micro sem vida.
Autômatos, nos os atônitos seguimos neste labutar sem fim, neste imenso esboço de nação, nas garras da corrupção.

Sampa 29-set-1992
Leis e bacharéis decidem o destino de diversos réus sendo que os réis influem na sentença e na benção. Amemo-nos uns aos outros como se fossemos todos iguais, mesmo sabendo que sempre existe um igual mais igual.
Que legal! Nos meandros do ilegal, os homens ditos de bem ditam as regras ... perversas novelas de capítulos sempre banais, de personagens sempre mortais; mas que tudo podem, tudo esta às suas ordens.
A fome é uma mera semelhança, não existindo na tênue realidade. Nas vias expressas da opressão insistem os vaga-lumes a brilhar em meio a estrumes ... em meio aos tapumes que escondem a traição  ... em meio aos enxames que dilaceram a libertação.
Ação, coação, coerção, cooptação ... tudo se exprime na força intrínseca da razão, nas belas teorias que nada fazem a não ser iludir nossa visão, deturpar os olhos e expropriar nossa imensidão.
Somos feitos de palavras esquecidas, de tábuas apodrecidas ... trazemos muitas feridas. Temos que tomar de assalto os lugares mais altos, os tronos e os reis momos, temos que levantar o asfalto para vermos de que fato são feitos os pavimentos ... por onde pissamos e para onde vamos, o que somos?

Sampa 24-set-1992

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Estas pessoas tão podres que insistem em atormentar os outros, as inocentes almas que buscam a calma ... que buscam a alma.
Uma arma apontada para a sua cabeça, para que não se esqueça da beleza, da tristeza que nos persegue frente aos dias ... defronte as pias de louça fria nos vemos incertos, imersos nesta infinita latrina.
Vida, oh vida vadia! Oh minha doce rebeldia, em qual das esquinas ficaste perdida, em quais moradias me abandonaste juntamente com a alegria?
Alegoria estampada em rostos de faminta agonia, a fome desperta os sonolentos que na lentidão dos tempos buscam o seu alimento ... o seu elemento.
Excremento exposto na calçada vazia, na alçada da justiça, na maldade da tirania ... uma tia morta pelo seu fragmentado cérebro, pelo seu estilhaçado ego.
Me apego a símbolos fálicos, pálidos traços de um ser marginalizado, escoltado por abutres famintos, que buscam a sua carne como troféu de brilho raro, como um infiel por tudo culpado.
Um vaso de flores mortas, casco a perfurar pensamentos, um asco que toma conta dos sentimentos.
Esta sociedade empalidecida não percebe quais as razões de suas feridas, qual lentidão habita suas moradias.

Sampoa 1991
Engrenagens de uma máquina aflita, fita de uma nova trilha, mentiras em formas distintas ... tintas a colorir marmitas. Palavras que nada dizem, que são iguais aos carros na avenida em seu ir e vir, qual será o porvir?
Polvilho estrelas com germes de felicidade, escuto as realezas com discursos de beleza, mas na verdade repletos de pobreza.

Sampa 1991
Ordas de ervas daninhas invadem o jardim da vida. Órbita de uma planta estéril a sufocar os seres que ali habitam ... transitam naves e foguetes como se fossem joguetes inocentes, indecentemente demonstram a sua verdade que transforma verdes árvores em podres galhos.
Em frangalhos os meus nervos estalam, entalam na agonia do povo, na fome que corroí estomagos, nas doenças existentes no sistema.
Madalena arrependida, paródia e vida, tinta usada nos grafites da avenida ... insistes em correr para além das esquinas enquanto a luz busca os que choram mas não se chocam diante esta matança indevida.

Sampa 1991
E se eu morresse amanhã?
Teria conseguido dar vida aos meus sonhos ou somente perambulado pelos escombros dos meus pensamentos?
Não sei ao certo o que é certo ou errado, enfim não entendo os homens em suas tarefas diárias, em suas incertas lealdades ... maldades que me fizeram fruto, um largo passo frente os textos acadêmicos; epidêmicos versos que povoam os meus sentimentos.
Lamentamos os vários fingimentos, os sangrentos falecimentos, os cimentos que contornam nossos elementos. Nos tornamos aço em meio as ferragens que soltam no espaço, que saltam sobre nossos passos como cogumelos em busca de orvalho.
Em busca de um orgasmo me vi cercado pelos seres de plástico ... no Ártico foi a pique o meu barco, geladas águas, tristes palavras.
Sinto as fadas em meu encalço, buscam o meu ser e nem mesmo sei aonde estou ... se restou algo além dos vasos ressecados ... palácios feitos de lábios. Lábios de um beijo passado, uma boca ensanguentada que navega a todo vapor pelos corpos em calor.
O bolor se apossa de mim, o tambor toca uma marcha sem fim, os sins são feitos de nãos, mãos que se entrelaçam diante as estrelas da madrugada ... uma vaga de fúria infinita sacode os poros, transforma os povos em uma massa ... uma raça distinta a traçar os caminhos, os desvios, ninhos de felicidade.
Utopia que não tem idade, a feliz idade que nos derrota e ao mesmo tempo mostra que as flores não estão mortas.


Sampoa 21.oct.91