quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Deixemos cair por terra as máscaras e as pinturas da face. Sigamos de rosto e espírito limpos rumo ao amanhecer de nossa luta. Não basta sermos apenas os teóricos do amanhã ... alegóricos seres que pendem de cordões manipulados, marionetes de um trágico espetáculo ... oráculo de respostas feitas de plástico.
Tentemos desatar estes nós que nos envolvem os braços, procuremos usar estas fibras para tecer as escadas de nossa fuga. Fuga esta não da realidade, mas sim das letargicas promessas de que um dia tudo muda ... luz do fim do túnel ... túnel de uma infinita travessia.
A rebeldia se esconde em uma ilha, ilha esta cercada por mil armadilhas e masmorras frias. O ser livre é algo incomodo, que denota batalhas e destruição da mesa posta;não é uma aposta nem tampouco um monte de bosta. É mais um momento de expansão, aonde um ser se torna fruto de seu querer ... sem querer alimentar as fornalhas da usina, sem querer perpetuar as maldades da tirania.
Mar/1993
Em meus olhos navega a tua imagem, em meu coração somente transborda a emoção quando encontro tua visão ... paixão diluída nos atos, fluída nos recatos ... nos recantos da solidão.
Falta me faz a linguagem, falta me faz a linhagem, para te alcançar na razão ... vazão de sentimentos proibidos, impedidos pela fraqueza de meu ser.
Queria ser o todo, estar no topo, mas mal sei escalar um morro, um simples tolo ... palavras jogadas, espalhadas por um papel qualquer, não exprimem o que de fato sinto ... omito.
Mito de meus sonhos mais intímos, musa de meus devaneios mais lindos ... queria agora abraçar o teu corpo, navegando pelas curvas de tua cintura, acariciando teu rosto como se fosse uma pintura.
Loucura pura e crua, desnuda criatura em sincera busca, em matéria impura ... lua de uma serenata, rua de um vagar silencioso; meus poros respiram o teu perfume, cheiro cheio de repouso ... descanso das batalhas mentais, fatais escaramuças de uma mente escusa ... reclusa em sua própria loucura.
(sem data)
Sorrio para ti meu maior desafio, meu maior inimigo. Te desafio a também sorrir, a rir deste mundo não limpo ... tu que desafina as cordas da vida, que impregna o ar com teu fétido lamentar.



Escute as alegrias, as verdadeiras alegrias; pois elas destruíram tuas alegorias te pondo frente a frente com as moscas de um verde negrume, o teu cérebro transborda em estrume ... ser sem virtude.



Não me importarei com tuas maledicências, medíocres falências de tua língua ... ingua nascente sobre as axilas de um doente ... dor de dente de incomodo presente, refletes um futuro longínquo a onde teremos vencido a fome dos homens e a ignorância daqueles que devoram estes famintos homens.



Comerás as ervas daninhas que crescem nas esquinas, dormirás nas pedras úmidas das masmorras sem vida ... a ida é a própria vinda, é a inconstante via que nos acessa a uma insana melodia ... luz de um novo dia, dia de um novo conhecer, esquecer da ganância faminta, padecer apenas diante a velhice tranquila.

(sem data)
Sempre sonhamos, sempre imaginamos transformar este mundo em um algo melhor, em alguma coisa pelo qual tenhamos vontade de viver, de amar e mesmo sonhar.
O pouco que queremos representa muito para os manipuladores de pensamento ... sentimentos dispersos, imersos na agonia e no sofrimento; poucos sabem o que de fato é esta tal realidade ... real idade das trevas, escuras e espessas cortinas de merda a vendar olhos famintos, a encobrir os mortos nas rasas valas dos monumentos.
Afinal, a quem interessa esta fome e miséria que assola e devasta nossa terra?
Porque tantos interesses se sobrepõem às necessidades da sociedade?
Respostas ... por mais que tentemos não encontraremos, pois estaremos sempre andando em círculos ... vivemos num imenso circo no qual os atores somos nós mesmos ... os palhaços sem pintura que riem a toa enquanto a lona desaba em chamas ... labaredas insanas a devorar carne humana, a transformar em pó o sonho que sempre sonhamos.
Chega desta alegoria absurda, basta de termos que engolir as fezes das diversas oligarquias, perversas tiranias.
Mar/1993
Por momentos me pego a te olhar, tentando o gosto de teus lábios imaginar ... pelo sabor de teu amor navegar.
É estranho este sentimento não lento, a tomar meus elementos, a destrinchar-me em segmentos. Algo me liga aos teus olhos, algo me transforma em um tolo parado na porta, sem saber se entra ou sai, sem compreender os seus próprios sinais.
Sou um sonhador, um trabalhador que não tem dono ... enquanto durar este meu sonho. Pode ser apenas outra ilusão, outra confusão criada por meu coração, mas como é boa esta sensação ... forte emoção.
Te mando um beijo, assim meio sem jeito. Transporta este beijo um carinho ... carinho.
(sem data)
Vá malefício, retorne ao teu dono desde o inicio, não me venhas perturbar, pois com minha vida não há de acabar.
Sou um pássaro aprisionado, que com a natureza perdeu o contato, mas sei o destino dos ventos, sempre estive ao relento ... relendo as páginas não escritas, me perdendo na ironia da vida.
Faz me rir esta tua pouco imatura maldade, esta tua crua ingenuidade. Procura para os teus grilhões os que gostam de escravizar, os que se sentem em guerra mesmo estando em uma cratera.
Sinto os teus olhos em meus passos, em meu encalço ... estou descalço para melhor sentir as brasas desta fogueira não adormecida, acordo em um salto por te ver como um asno. Novamente te digo que vá, procure o teu mestre e desfrute com ele o seu próprio mal.
Novamente te digo que se vá malefício daninho, aconchegue-se junto ao teu dono mesquinho, este vil prostituído que vende sua alma a todo instante, que vive uma mentira incessante.
E assim se façam as trevas de tuas próprias costelas ... sequelas ... mazelas a quem espera destruir, a quem sente prazer em mentir.
15/12/1992